sexta-feira, 10 de janeiro de 2025

FILOSOFIA: O QUE É O ESTOICISMO? QUAL A SUA IMPORTÂNCIA?


O estoicismo é uma interessante perspectiva filosófica originada durante a Grécia antiga, aproximadamente a 300 anos antes de cristo. Sendo fundada no século IV a.c pelo importante pensador Zenão de Cítio (334-262 a.c). Foi um dos primeiros a definir de maneira clara, em sua obra intitulada “Da Natureza do Homem”, uma das características primordiais do estoicismo na qual entende que o ser humano deve “viver de acordo com a natureza”.

A natureza é a fonte de todas as coisas e estabelece a interconexão entre todos os seres vivos. Buscar viver em harmonia com ela é algo essencial. “Nascemos para colaborar e agir uns contra os outros é contrário à nossa natureza” (Antonio Gustavo). Tudo está conectado e cada um enquanto parte integrante desse todo tem um propósito especifico a realizar.

Para o pensador Zenão as coisas basicamente podem ser divididas em boas, más e indiferentes. Ao que é bom, pertence a virtude; ao que é mau, pertence ao vício; ao que é indiferente, todas as outras coisas derivadas do que é externo. Nesse sentido, uma das características centrais do estoicismo é que assim como existe quatro virtudes consideradas principais (sabedoria, temperança, coragem e justiça) a ser seguidas. Existe quatro vícios principais (estupidez, intemperança, covardia e injustiça) a ser evitados.

Logo, as pessoas devem não apenas se ocupar em buscar o que é bom como as virtudes e evitar o que é mal como os vícios. Mas, também não se preocupar tanto com as coisas que lhe são indiferentes. O que se denomina de ataraxia, isto é, a ética baseada em manter ou alcançar um estado de serenidade na indiferença de determinados acontecimentos externos. 

Em relação a questão das quatros virtudes cardeais isso é uma ideia incorporada ao pensamento filosófico do estoicismo, cuja origem provém do pensador grego Platão. Cada uma das quatros virtudes cardeais (sabedoria, justiça, temperança e coragem) devem ser tratadas em conjunto de maneira naturalmente interativas e não artificialmente isoladas. Haja vista que estão integradas a vida.

Correspondendo a sabedoria: a capacidade de discernir o bem do mal; o certo do errado; o justo do injusto; o verdadeiro do falso. Afastando de uma percepção distorcida da realidade e aproximando de uma interpretação melhor. Enxergando as coisas pelo o que são e não pelo o que desejamos que sejam. “Se não for certo não faça, se não for verdade não diga” (Marco Aurélio)

A justiça: pode ser entendida como dar a cada um o que lhe é devido. Para o pensador Marco Aurélio essa virtude era considerada a mais importante: “a fonte de todas as outras virtudes”. Inclusive, ele diz que: “quem comete injustiça é um ímpio, porque a natureza do conjunto universal constituiu os seres racionais uns para os outros, de maneira que se favorecessem mutuamente segundo o seu mérito, sem que, em nenhum caso, se prejudicassem” (Marco Aurélio).

Por isso, a sabedoria para saber a verdade é algo que sempre tem de ser essencialmente alinhada à justiça para tomar decisões que promovam e beneficie o bem e combatam e punam o mal. Tanto na omissão quanto na ação pode-se constituir uma injustiça, ou seja, quem participa passivamente assistindo uma injustiça acontecendo e não interfere de alguma maneira para impedir é injusto assim como é injusto quem ativamente pratica a injustiça. Devendo ser a justiça tanto punitiva em relação aos que fizeram ou fazem o mal quanto restaurativa em relação aos que sofreram ou sofrem injustiças. Agir de maneira justa, apesar da pressão de não o fazer, isso é algo que esse pensador se preocupava e valorizava. Pois, há vidas em que dependem do uso correto da justiça e da sabedoria. “A salvação da vida consiste em ver inteiramente o que é cada coisa em si mesma, qual é a sua matéria e qual é a sua causa. Em praticar a justiça com toda alma e em dizer a verdade” (Marco Aurélio).

 A temperança: o domínio de si próprio. Assegurando o equilíbrio das emoções e razões, valorizando a moderação até mesmo no uso dos bens. Sendo o que tem valor avaliado como superior ao que tem preço. Exercendo autocontrole na atração pela ganância. O que se denomina de autarquia, ou seja, controle de si mesmo, das realidades interiores, cultivando as virtudes. 

Coragem: firmeza e constância na busca do bem. Resistindo as adversidades e superando obstáculos. A pessoa deve sempre fazer o que é certo mesmo quando tenha medo. Ter coragem é algo que envolve, por exemplo, a coragem de ser honesto, de defender os outros e de fazer escolhas difíceis. A causa da coragem assim tem que ser justa. Uma virtude em disposição da boa causa e em função da justiça.

Além disso, ideias provenientes de Sócrates também influenciaram o estoicismo, pois os estoicos concordavam com a concepção socrática de que virtude é conhecimento. Sendo a virtude considerada o bem mais elevado. Sendo assim, tanto as ideias de Sócrates quanto as de Platão são incorporadas nesse pensamento filosófico.

Tendo em vista que para entender o funcionamento do cosmo, ou seja, do universo, da natureza, do ser humano e da vida buscavam a partir principalmente da racionalidade e do conhecimento. Não se eliminando ou fugindo da emoção dos sentimentos e nem, muito menos, evitando em absoluto a emoção até porque é algo impossível, mas sim buscando diminuir o domínio dessas coisas, visando transformar o afeto irracional em afeto racional.

Há muitos pensadores estoicos, mas os principais filósofos são: Zenão, Epiteto, Sêneca, Marco Aurélio. No livro “Meditações” de autoria de Marco Aurélio apresenta ideias fundamentais do estoicismo que é resultado de um conjunto de anotações pessoais de profundas reflexões desenvolvidas sobre diferentes acontecimentos diários que são até hoje considerados por muitos estudiosos do tema como uma das principais referências sobre o estoicismo. 

Em uma das diversas passagens desse livro, esse pensador diz algo que em poucas palavras resume muito sobre o propósito do estoicismo: “Não perca tempo discutindo sobre o que um bom homem deve ser. Seja um” (Marco Aurélio). Isso é uma preocupação central que norteia a finalidade do aprendizado adquirido com o conhecimento filosófico do estoicismo, ou seja, fazer a nossa parte para construir condições favoráveis de nos tornarmos de fato seres humanos melhores. Sendo assim, mais desenvolvidos, mais aprimorados, mais evoluídos em várias sentidos e dimensões.

Portanto, para o estoicismo é importante pensar em ser uma pessoa melhor e agir nesse sentido. Pois, não colocar ideias em prática é desperdiçar os pensamentos. As ações passam a ser mais valorizadas do que palavras. Ao contrário das demais filosofias existentes, o estoicismo busca assim a praticidade e o direcionamento para as ações (SANTOS, 2021).

A filosofia é compreendida não somente como uma atividade intelectual, mas sobretudo como um exercício (MOURA, 2012). Superando a retórica e sendo praticada. Entendemos que “só as ações que são efetivamente capazes de dá sentido as nossas palavras” (Antonio Gustavo). Dessa forma, as palavras e as ações aparecem articuladas, dentre outras coisas, principalmente desempenhando a função de desfazerem abismos, criarem pontes e reciprocamente se aproximarem. Buscando-se, a medida do possível, o que é dito ser feito e o que é feito ser dito e posteriormente com isso proporcionar matéria para a realização de valiosas reflexões, por exemplo, sobre o que de melhor pode passar a ser dito e, sobretudo, o que de melhor pode passar a ser feito.

Contudo, o mar em que a filosofia navega na direção de alcançar a sua realização não é feito apenas de maravilhosas calmarias, mas também de turbulentas tempestades. O que significa dizer que nem sempre encontramos facilidades. Na verdade, encontramos em maior proporção na sociedade mais limites do que possiblidades. Por isso, filosofar não raro é nadar contra a maré, pois aonde a atividade filosófica exerce sua reflexão há quase sempre um conjunto de pessoas insensatas e ignorantes que não poupam esforços em aviltar contra a dignidade da filosofia (ALVES E SILVA, 2021).

Mas, é válido destacar que “a filosofia antes de nos levar a algum lugar, ela principalmente nos leva a nós mesmos” (Antonio Gustavo). Isso é algo que nos faz lembrar de outro princípio básico do estoicismo: há coisas que dependem de nós e há outras coisas que não dependem. Sendo assim, é errado pensar conforme o senso comum estabelecido no qual costuma dizer que “tudo depende apenas de nós mesmos”.

Por exemplo, há coisas nas quais dão certas que dependem de nós e há outras coisas nas quais dão erradas que não dependem de nós. É importante focar os pensamentos sobre o que está ao nosso controle e concentrar as ações sobre o que está nosso alcance. Aceitando ou suportando, de certo modo, o que não podemos mudar.

Pois, não podemos controlar outras pessoas, a passagem do tempo, o clima, a economia ou qualquer outra coisa externa a nós. Só temos o poder de controlar nossos pensamentos, crenças, valores e ações. A verdadeira força se encontra dentro de nós. O autêntico autoconhecimento ou a genuína mudança acontece de dentro para fora. “Você tem poder sobre sua mente, não sobre eventos externos. Perceba isso, e encontrará força” (Marco Aurélio).

Não obstante a filosofia estoica permanece auxiliando na vida, promovendo a virtude, a ética, o bem-estar pessoal e a autorrealização. Isso significa dizer que devemos continuar sendo assim pessoas mais virtuosas buscando desenvolver a sabedoria, a justiça, a temperança e a coragem em nossos pensamentos e ações. Pois, a virtude é única coisa ou uma das pouquíssimas coisas que não pode ser tirada de nós.

Por essas e outras razões podemos assim entender porque, apesar de que haja os que equivocadamente ainda insistem em dizer o contrário, a perspectiva filosófica do estoicismo até os dias de hoje de fato existe não apenas como uma boa influência, mas também contribuindo de maneira tão importante na vida das pessoas que sabem reconhecer o valor dessas ideias.

 

TEXTO: ANTONIO GUSTAVO

 

REFERÊNCIAS:

 

AURÉLIO, Marco. Meditações. Campinas, SP: Editora Auster, 2021.

ALVES, Antônio José Lopes; SILVA, Sabina Maura. Conhecer, pensar, viver ... A filosofia na sala de aula. – Florianópolis: Editoria Em Debate/UFSC. 2021.

MOURA, Drayfine Teixeira. A ética dos estoicos antigos e o estereótipo estoico na modernidade. Cadernos Espinosanos, n. 26, p. 111-128, 15 jun. 2012.

SANTOS, Rafael Silva Verdival. A contribuição do estoicismo no enfrentamento das angústias existenciais no mundo contemporâneo. Opinião Filosófica, v. 12. 2021.

SILVA, Antonio Gustavo. Ações. BLOG: Fragmentos dos Meus Uni-Versos. Disponível em: https://antoniogustavobr.blogspot.com/2022/11/so-as-acoes-que-sao-efetivamente.html.  Acessado em: 07/01/2025.

 

SILVA, Antonio Gustavo. Colaborar. BLOG: Fragmentos dos Meus Uni-Versos. Disponível em: https://antoniogustavobr.blogspot.com/2025/01/colaborar.html. Acessado em: 08/01/25

 

SILVA, Antonio Gustavo. Filosofia. BLOG: Fragmentos dos Meus Uni-Versos. Disponível em: https://antoniogustavobr.blogspot.com/2025/01/filosofia.html. Acessado em: 06/01/2025.


Um comentário:

GEOGRAFIA: AMAZÔNIA AZUL: O QUE É? QUAL A SUA IMPORTÂNCIA?

A Amazônia azul é um termo que foi inicialmente utilizado no Brasil como um conceito político-estratégico, em 2004, pela Marinha do Brasil. ...