Para
compreendermos melhor a influência não só da centralidade urbana que a cidade
média de Marabá exerce hoje, polarizando na dimensão política e econômica na
sub-região (sudeste paraense) a qual está inserida, é necessário levarmos em
consideração mesmo que de forma rápida que não é só um fato recente, advindo
exclusivamente com a implantação dos grandes projetos, vinda de novos agentes
político-econômicos e a abertura de rodovias de penetração na região.
Pois,
na produção do espaço regional, foi sendo sua centralidade, na verdade,
construída ao longo do tempo, a princípio basicamente podendo afirmar que
estando relacionada com a valorização de atividades ligadas ao extrativismo vegetal de diferentes produtos
econômicos locais.
Uma
vez que no começo na condição de povoado Marabá sua configuração geográfica,
salvo suas especificidades, não era nada diferente da tendência predominante
verificada na realidade de grande parte do restante da região amazônica em que
no momento a dinâmica dos rios era fundamental para a realização das atividades
econômicas e espaciais (CASTRO,2009).
Surgindo
como Burgo do Itacaiúnas, em 1895, menos de duas décadas depois, muda o espaço
de localização, passando, então, a ser situada mais exatamente num pontal de
terra entre os rios Tocantins e Itacaiúnas, local estratégico para o escoamento
da produção, como entreposto comercial do caucho (matéria-prima muito
valorizada que produzia uma goma similar à borracha). Com a crise da borracha,
durante o século XX, em 1919, houve obviamente abrupta queda da comercialização
desse produto, promovendo, por conseguinte, a estagnação econômica regional.
Mas, logo em seguida, imediatamente, se recompõe sua atividade econômica, por sua vez, com a extração da castanha-do-pará passando a ser o produto econômico local a dinamizar demográfica e economicamente a cidade. Já durante a década de 1920, especialmente a partir de 1927, Marabá torna-se o principal produtor de Castanha do Pará no estado do Pará (EMMI, 1999).
O desenvolvimento dessa
atividade pela oligarquia regional conhecida também como oligarquia do
Tocantins, formada normalmente por importantes comerciantes e políticos donos
de terra, foi responsável, concomitantemente, por fortalecer mais a mesma
oligarquia regional existente e permitir Marabá ganhar relevância perante o
Estado (EMMI, 1999). Sendo que durante mais de 50 anos, o domínio das
oligarquias dos castanhais em Marabá foi considerada na época a ordem natural
vigente do poder político e da forma de organização política e econômica da
região. Ao ponto de Marabá, por exemplo, ainda durante esse contexto, em 1913,
de um povoado passar a ser considerado município até, num curto espaço de
tempo, em 1923, ser elevada à categoria de cidade. (VELHO,1972).
Portanto,
assim, nessa etapa do início da cidade de Marabá podemos historicamente afirmar
que é, sem dúvida, com a valorização e o desenvolvimento do extrativismo
vegetal das atividades econômicas locais, empreendidas pela oligarquia do
Tocantins, baseadas principalmente na exploração, num primeiro momento do
caucho, e, num segundo momento, da castanha do Pará que iram ambas, em grande
parte, permitir dinamizar econômica, demográfica e politicamente a cidade de
Marabá no cenário sub-regional do sudeste paraense ao qual ela está inserida.
Entretanto,
a partir de da década de 1960 em diante que observamos propriamente a cidade,
de fato, ganhar maior destaque, assumindo novos papéis e formas-conteúdos mais
complexas de serem analisadas em virtude do processo de restruturação da
produção do espaço regional que nesse momento passa a ocorrer, introduzindo-se
novos ritmos e novos rumos, evidenciando intensas transformações e novas
configurações territoriais, permitindo, cada vez mais, a cidade de Marabá se
consolidar como centro urbano capaz de polarizar e influenciar, especialmente
do ponto de vista sub-regional, um número significado de cidades.
Ao
passo de ter havido uma importância estratégica conferida a Marabá, dentre
outras, como centro urbano no cenário de integração da Amazônia oriental, com
intenso e diferenciado processo de urbanização, aonde articulava-a a diversos
municípios, na medida em que a nova configuração urbana sustentada na lógica
espacial da “rodovia-terra-firme-subsolo” (PORTO-GONÇALVES, 2001) se firmava,
ao mesmo tempo, negando a precedente primazia do antigo padrão de organização
regional baseado na lógica fluvial dos rios, principalmente com a importância
que passa a assumir a Estrada de Ferro Carajás e as rodovias Transamazônica
(BR-230), PA-150, BR-222.
Sendo
esse momento agora de intensa urbanização com o processo de abertura de
rodovias na Amazônia, consequentemente, responsável por enfraquecer a função
dos rios como principais vias de circulação na região ao ponto, por exemplo, da
capital do Estado do Pará, Belém, perder a condição que antes largamente
sustentava de ser a única porta de entrada na região. Resultando logicamente,
nesse aspecto geográfico, na maior autonomia assumida pelos outros centros
urbanos de sub-regiões como Marabá.
Nesse contexto, Marabá
apresenta-se como lócus de grandes investimentos (TAVARES, 1999). Despertando
os interesses do capital industrial e financeiro na região (EMMI, 1999). Não
mais se restringindo, assim, a influência política e econômica das elites
tradicionais da oligarquia regional apoiada no comércio e no extrativismo
vegetal (EMMI, 1999), refletindo como resultado do processo de restruturação
territorial também no condicionamento de uma nova estrutura de poder, onde
passa a haver o predomínio dos novos agentes político-econômicos, tais como
grandes pecuaristas, os bancos, as empresas nacionais e até grandes empresas
internacionais.
De
tal maneira que o surgimento dessa nova elite na região e sua relação com as
políticas do governo, consonante a centralidade urbana de Marabá, vão elevar a
cidade a condição de “Rurópolis”, sede de substancial importância para apoio ao
projeto de urbanismo rural, dotando a cidade de equipamentos urbanos, zona
industrial, lotes urbanos e agrícolas (CARDOSO; LIMA, 2009).
Projeto também de grande ou, melhor dizendo, de maior envergadura regional estimulado pelo governo estadual e que tem em Marabá uma das suas principais cidades de apoio foi o PGC (Programa Grande Carajás) que contribuiu, ainda mais, para incrementar o dinamismo da cidade e certamente da região, já que o PGC implicou na criação da ferrovia e do corredor de exportação de Carajás, nas ações empreendidas na exploração mineral da Serra do Carajás, na construção da UHT (Usina Hidrelétrica de Tucuruí) e outras atividades econômicas.
Outro
evento que vem se somar dentro desse processo no final da década de 1980,
promovida pela Companhia de Desenvolvimento Industrial do Pará (CDI), é a
instalação do Distrito Industrial de Marabá (DIM), ligada a produção minério de
ferro-gusa através das industriais Companhia Siderúrgica do Pará (COSIPAR) e
Siderúrgica de Marabá (SIMARA) (MARABÁ, 2006).
Passando
Marabá a ser marcada por forte migração, grandes projetos e destaque
político-econômico no estado do Pará. Já que expressa nessa nova estruturação
espacial uma concentração em seu ponto de certa disponibilidade de
infraestrutura e a uma relativa densidade técnica, de atividades econômicas,
sociais e políticas (TRINDADE JR; RIBEIRO, 2008). Já que o conjunto dos
projetos e ações sejam governamentais ou empresariais levados adiante,
evidenciam resultados que reforçam os impactos que provocaram, sobretudo, do
ponto de vista econômico e, simultaneamente, a inegável importância que Marabá
progressivamente assume no cenário sub-regional.
Como, por exemplo, o fato de
Marabá, no decorrer do tempo, aquecendo a economia sub-regional, passar a
conter um total de 873 estabelecimentos, compostos por pequenas, médias e
grandes empresas (MARABÁ, 2006); Marabá concentrar investimentos no setor
mineral abrigando grande parte dos projetos voltados para cadeia produtiva
mineral do sudeste paraense (PARÁ INVESTIMENTOS, 2010); Marabá sendo
naturalmente, assim, considerada como importante centro para os negócios e
serviços do sul e sudeste do Pará (ONG VIVER CIDADES, 2004).
Porém,
não podemos esquecer de destacar sua importância, além da dimensão econômica já
mencionada, na dimensão política. Tendo, desde a década de 1960 em diante, o
Estado, importante também agente transformador das dinâmicas da sub-região,
acompanhado em todos os momentos, paralelamente, seja no projeto de urbanismo
rural (cidade de apoio Marabá), nas melhorias infra estruturais (principalmente
as aberturas de estradas) ou na exploração mineral (Programa Grande Carajás),
atuando com ações governamentais no fornecimento de créditos, incentivos
fiscais, dentre outros.
Contudo,
a medida em que o Estado se mostra participante, direta e indiretamente, em
todas as atividades que foram implementadas como projetos de exploração
mineral, urbano rural, infraestruturais, incentivos fiscais e disponibilidades
de créditos. Foi ao longo do tempo, de algum modo, contribuindo para
possibilitar as condições de se sediar importantes instituições em Marabá.
Podemos visualizarmos do ponto
de vista da centralidade política de modo mais evidente possível sua influência
pontuando outros elementos também significativos como o fato de Marabá ser sede
de importantes instituições governamentais, sejam eles municipais ou
principalmente de ordem estaduais e federais que permitem, ainda mais,
evidenciar o papel de polarização em abrangência regional dessa mesma cidade,
atendendo as necessidades da população pertencente a essa sub-região. Pode ser
demonstrado no quadro “1” abaixo.
Quadro 01 – Instituições Públicas Estaduais e Federais localizadas em Marabá
Elaboração: SILVA, Antonio Gustavo, 2017.
Além
do quadro 1 acima que reforça a centralidade política regional que Marabá, sem
dúvida, exerce no cenário da sub-região através da presença e concentração de
importantes instituições, o quadro 2 (NUNES, D. A. 2012)
abaixo evidencia a centralidade política indicando a expressiva força e
irrefutável papel que Marabá exerce na condição de protagonista do ponto de
vista da divisão do Estado do Pará para criação do Estado do Carajás.
Na
medida em que demonstra que a maioria dos eventos realizados em função da
pró-emancipação do Estado do Carajás quando não foram sediadas em Marabá, mesmo
assim, Marabá manteve papel ativo de protagonista, destacando-se no permanente
envolvimento, direto e indireto, na criação, participação, organização,
mobilização e articulação no projeto com outras cidades da sub-região de
influência interessadas no assunto.
Registrando a trajetória dos principais eventos e ações, desde o início com as primeiras reuniões discutindo a necessidade de criação do Estado de Carajás até aos últimos eventos, com a ocorrência do plebiscito sobre a criação do Estado do Carajás.
Quadro 02 - Ações e eventos pró-emancipação do Estado do Carajás.
Outro fator importante que nos permite fornecer uma dimensionalidade do papel de protagonista de Marabá em relação a sua grande parcela de contribuição em prol dos acontecimentos envolvendo a criação do Estado do Carajás é que Marabá não participa somente na mobilização, mas principalmente através dos novos agentes econômicos, pertencentes a elite marabaense, no sentido de proporcionar o financiamento dos eventos. O gráfico 1 abaixo (SILVA, Antonio Gustavo, 2017) baseados em dados (PARÁ, 2012) do tribunal de contas do TRE (Tribunal Regional Eleitoral) confirmam isso no que diz respeito a localização dos agentes jurídicos contribuintes financeiros para Frente Pró-Carajás.
Gráfico 1. Agentes jurídicos doadores da Frente Pró-Carajás
Elaboração: SILVA, Antonio Gustavo, 2017. |
Marabá
concentrou mais da metade das pessoas jurídicas que diretamente realizaram
doações. Sendo mais precisamente, segundo o gráfico, indicado pela cor azul, na
quantidade de cerca de 58,14% de agentes econômicos de pessoas jurídicas
contribuindo financeiramente.
Enquanto
que, ao mesmo tempo, menos expressivamente, os agentes identificados pela cor
laranja e cinza, compostos por outros municípios, pertencentes a outros estados
e provenientes de outros municípios do próprio estado do Pará, foram responsáveis
no total por pouco menos de 21,00% das doações, numa faixa de 20,93%.
Ainda baseado em dados do TRE (PARÁ, 2012), na Tabela abaixo (NUNES,D. A.2013) no que refere ao valor doado por município para a Frente Pró-criação do Carajás.
Tabela 01 – Valor doado por município para a Frente Pró-criação do Carajás
Elaboração: NUNES, Débora Aquino, 2013.
Conforme
a tabela 01 revela 36,74% podemos constatar, mais de um milhão de reais, exatos
R$ 1.041.700,00 do valor doado para a campanha pró-Carajás foi originário de
agentes concentrados em Marabá, mais que duas vezes maior que o valor doado
pelos agentes da segunda cidade, Tucuruí, que mais contribuiu com cerca de
15,89%, correspondendo a R$ 450.500,00 do total das doações. Destacando a
importância dos agentes localizados no Sudeste Paraense, principalmente Marabá,
que contribuíram ao todo com 78,38%, R$ 2.222.380,60, do total arrecadado.
Sendo
assim, percebe-se, então, facilmente que os agentes concentrados em Marabá são
não só os que mais se mobilizam e articulam, mas, de fato, os que mais também
contribuem para campanha plebiscitária da frente Pró-Carajás.
Conclui-se conforme observado e analisado que a protagonista cidade média de Marabá certamente apresenta significativa centralidade tanto do ponto de vista econômico quanto político, base de importantes projetos, pólo econômico e decisório regional, representações políticas públicas e privadas, centro financeiro e das ações do movimento pró-Carajás (NUNES; LIMA, 2012). O que em conjunto levando em consideração a soma de cada um desses diferentes fatores atestam validamente na direção, ainda mais, de sua importância e reforçam seu inegável papel de protagonista na sub-região a qual faz parte do sudeste paraense.
TEXTO: ANTONIO
GUSTAVO
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