Em relação à deficiência visual podemos afirmar que do ponto de vista educacional, geralmente, coloca-se como um desafio, dentre outros motivos e razões possíveis, pelo fato de que vivemos numa sociedade em que fomos habituados desde tempos antigos até aos dias atuais, seja de maneira espontânea, ou seja de modo mais racional, a conceituar o(s) mundo(s), as pessoas, os lugares, as coisas a partir principalmente de referências visuais disponíveis como alto/baixo, largo/estreito, belo/feio, perto/longe.
O que favorece haver no que se refere à representação espacial para o cidadão comum a existência extensa e (re) produção intensa de mapas convencionais, muitos dos quais, inclusive, padronizados e reconhecidos a níveis mundiais, usados como recursos educativos indispensáveis que auxiliam na aquisição de informações espaciais como acontece, por exemplo, nas disciplinas de geografia. Permitindo tanto ao cidadão comum quanto ao estudante aguçarem suas habilidades espaciais estimulando o raciocínio espacial, dentre outros, no domínio de noções básicas como orientação, localização e distância.
Nesse contexto, diante desse desafio torna-se necessário, em contrapartida, buscar proposições, reflexões, alternativas e respostas sustentadas numa perspectiva de inclusão educacional em que possa, na medida do possível, levar em consideração as especificidades e demandas no processo de ensino-aprendizagem de alunos (as) com necessidades educacionais especiais como no caso do deficiente visual.
Uma vez que os estudos e pesquisas promovidos na educação geográfica, até momento, em relação às pessoas com deficiência visual, ainda são, em grande parte, embora importantes bastante raros. E a geografia para pessoas com deficiência visual é caracterizada por dificuldades devido à parcial ou total ausência de visão, prejudicando a melhor representação do espaço geográfico.
Percebe-se, ainda, que há poucos pensadores que desenvolvem trabalhos nessa área e pouco é o incentivo governamental concedido para essa problemática. Os esforços convergidos na esfera legal e institucional da lei para mudar essa realidade foram empreendidos na escala temporal na ordem de algumas décadas para cá, portanto, iniciativas recentes como se pode verificar, por exemplo, na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), Lei nº 9.394 de 1996, abrangendo o conjunto de deficiências existentes que, grosso modo, ampara legalmente a educação especial visando, ao mesmo tempo, a formação e qualificação do professor para atuar em tal área.
Contudo, quando vamos pensar mais especificamente na deficiência visual, migrando o foco de atenção agora para esfera educacional, por exemplo, em relação aos recursos disponíveis como o mapa tátil adaptado para educação especial dessas pessoas é difícil não perceber como se constitui num desafio, pois diferente dos mapas convencionais adotados ao longo do tempo, não existem padrões cartográficos táteis aceitos mundialmente. Além de que não só próprio uso desse recurso adaptado, como antes disto, o próprio conhecimento do mapa tátil no Brasil ainda ser pouco difundido.
Bem antes dessa preocupação cabe ressaltar a importância também de haver uma conscientização no sentido de conhecer e compreender, pelo menos, a princípio, um pouco acerca da deficiência. Sendo assim, em relação ao deficiente visual pode-se dizer normalmente que existem dois grupos de condições distintas, isto é, pessoas cegas e pessoas que possuem baixas visões.
Basicamente, no primeiro caso, cegueira, refere-se ao grupo de pessoas em que a percepção visual de maneira total fica nelas comprometidas. O processo de ensino aprendizagem, no geral, ocorrerá tanto por intermédio dos sentidos (tato, audição, olfato e paladar), com exceção logicamente da visão, quanto por comunicação escrita com o auxílio do uso do sistema BRAILE. No segundo caso, baixa visão, refere-se ao grupo de pessoas que têm a percepção visual de maneira parcial e menos grave prejudicada. Onde as funções que dizem respeito a simples percepção da luz até a acuidade do campo visual ficam comprometidas.
Dependendo a sua condição visual, por sua vez, de um condicionamento de múltiplos fatores, sejam esses: emocionais, circunstâncias e posicionais e até, inclusive, das condições de iluminação natural ou artificial encontradas nos ambientes. Logo, sendo assim, o processo de ensino aprendizagem têm possibilidades de recursos disponíveis bem maiores, pois existem instrumentos que auxiliam como a lupa, escrita ampliada, telelupa.
De um modo (cegueira) ou de outro (baixa visão) o recurso do mapa tátil se faz certamente importante, pois permite com que se adapte a linguagem não visual, portanto, assim, a linguagem tátil das pessoas com deficiência visual proporcionando a inclusão educacional, uma vez que tem a oportunidade de desenvolver as habilidades de observação, percepção e representação do espaço da sua peculiar maneira, lendo o mundo não através da visão, mas da mão. Transmitindo os mapas táteis informações que possam ser lidas por eles.
Nesse sentido, foram empreendidos esforços por parte da equipe (Antonio Gustavo, Cleitiane Sousa, Janiele Cunha), com o objetivo a princípio de elaborar um mapa tátil, visando auxiliar no processo de ensino e aprendizagem, compartilhando o saber geográfico na perspectiva da inclusão educacional das pessoas com deficiência visual.
Nosso mapa tátil, por sua vez, trata-se do Mapa Regional Oficial do Brasil do IBGE (Região Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sul e Sudeste), em vigor atualmente. Colocamos o título e legenda do nosso mapa tátil escrita em BRAILE. Onde no material utilizado para representar cada região, constitui-se por uso de texturas variadas e diferenciadas para favorecer identificar e distinguir uma região da outra, trabalhando em cima de noções básicas, tais como: limite, extensão, localização e, além disso, ressaltar a particularidade de cada região (parte) do território (todo) brasileiro.
Dessa maneira, procedeu-se metodologicamente com algumas distorções, como, a de separar relativamente e fisicamente uma região da proximidade da outra com o propósito de facilitar didaticamente na identificação de cada respectiva região com sua especifica simbologia expressa basicamente na textura de materiais diferentes para representá-las.
Verificamos que, de modo geral, não foi algo fácil, mas também não foi impossível. Pelo contrário, durante o desenvolvimento e término da atividade foi encantador e interessante, mesmo na condição de iniciantes e amadores. Compreendemos que acerca da deficiência visual, numa perspectiva de inclusão educacional, há necessidade de mais atenção nessa questão, seja por parte da educação, do governo, da sociedade, enfim, de todos os envolvidos que possam colaborar ou contribuir de alguma forma.
Tendo em vista que, por exemplo, as formações de professores ainda deixam muito a desejar em nosso país, seja normalmente para as pessoas que não são deficientes, imagine na área de educação especial, atendendo a determinadas especificidades e demandas de pessoas com deficiência visual. Portanto, estimular e fornecer condições para formação profissional, o conhecimento e compreensão da deficiência, a inclusão educacional, a elaboração de materiais/recursos educativos adaptados (ex: mapas táteis), a participação e envolvimento maior das pessoas, são algumas das metas destacadas fundamentais a serem contempladas e alcançadas na parte desse desafiante processo da trajetória educacional.
TEXTO: ANTONIO GUSTAVO
MAPA TÁTIL: ANTONIO GUSTAVO, CLEITIANE SOUSA, JANIELE CUNHA.
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