Morreu na quinta-feira, 13 de novembro de 2014, Manoel de Barros aos 97 anos,
prestes a completar 98 anos no próximo mês. Nascido em Cuiabá-MT no dia 19 de
dezembro de 1916. Manoel de Barros é considerado um dos maiores poetas
contemporâneos do Brasil, publicou mais de 30 livros, dos quais praticamente
quase 2/3, 18 livros, sendo especificamente de poesia.
Recebeu importantes prêmios literários, como dois Jabutis (em 1989, com "O
Guardador de Águas" e em 2002, "O fazedor do Amanhecer), foi
agraciado com o Prêmio Academia Brasileira de Letras, pelo livro
"Exercício de Ser Criança", em 2000. Contudo, sua obra mais conhecida
é “O Livro Sobre o Nada”, de 1996. Onde desse último podemos extrair dois
versos que sintetizam bem esse momento: “Não preciso do fim para chegar”; “Do
lugar onde estou já fui embora”
Além de ser conhecido pelo seu nome propriamente dito também é conhecido como
“poeta da natureza”, sendo chamado de "poeta do Pantanal", rótulo
esse que recusou, tendo em vista que embora ainda criança, ter passado por
longas temporadas na fazenda do seu pai, no Pantanal, e, após isso, já adulto, ter se tornado fazendeiro, experiência que lhe rendeu
desenvolver, em grande parte, um olhar atento aos movimentos dos diversos
elementos (sol, lua, árvores, folhas, águas, aves, formigas, etc..) da natureza.
Mesmo que reconhecendo “fui criado no mato e aprendi a gostar das coisinhas do
chão”, fez questão de dizer que, antes de tudo, essencialmente: “a poesia mexe
com palavras e não com paisagens”.
No ensino escolar da educação básica estudou um período significado na cidade de Campo Grande na qual é a capital do estado do Mato Grosso do Sul. E no ensino superior cursou e se formou, em 1941, em Direito pela Universidade do Rio de Janeiro.
Durante boa parte da sua vida como ainda hoje, de certo modo, é comum de
se vê nos jovens brasileiros, principalmente estudantes e universitários, foi
adepto e defensor também dos ideais socialistas/comunistas. Entretanto, ao longo do tempo, com mais conhecimento de mundo e experiência de vida adquirida, o
desenrolar de alguns acontecimentos no contexto em que viveu foram
imprescindíveis para ele romper, em 1945, com o partido comunista brasileiro e se
frustrar com os rumos políticos a partir de então.
Como no Brasil ter havido, por exemplo, sequestros, perseguições, péssimos
exemplos, tais como o do Luís Carlos Prestes, político comunista, declarar
apoio ao presidente Getúlio Vargas e Getúlio ter entregue sua esposa Olga
Benário ao regime nazista da Alemanha.
De modo geral, Manoel de Barros em relação a sua trajetória artística é
associado ao pós-Modernismo brasileiro, situado próximo das vanguardas
europeias e da Poesia Pau-Brasil e da Antropofagia. Agradando-o ou não, o
rótulo de "Poeta do Pantanal", o fato é que foi algo marcante, não apenas porque apresenta em seus poemas versos com elementos regionais, mas também porque esse era
um dos temas frequentes em seus escritos.
Outro fato curioso que também possibilita oferecer uma dimensão da importância
de Manoel de Barros é a opinião de Carlos Drummond de Andrade, cujo o mesmo
enquanto ainda escrevia, recusou ser considerado o maior poeta vivo do Brasil,
em favor daquele que Drummond particularmente acreditava ser o maior, no caso,
Manoel de Barros. Nesse sentido, não há exageros em se afirmar que a literatura
brasileira perdeu, sem dúvida, um dos seus maiores representantes. Despeço-me
do texto, por fim, com uns versos incríveis do próprio Manoel de Barros,
colhidos do poema "a menina avoada":
(...) No caminho, antes, a gente precisava
de atravessar um rio inventado.
Na travessia o carro afundou
E os bois morreram afogados.
Eu não morri porque o rio era inventado”.
TEXTO: ANTONIO GUSTAVO